MEDIÇÃO DE TERRA

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domingo, 19 de janeiro de 2014

Famílias de mortos em queda de prédios, no Rio, não têm indenização


Tragédia que matou 22 pessoas completa dois anos no dia 25 de janeiro.
Cinco corpos continuam desaparecidos; 2ª audiência acontece dia 30.

Renata Soares Do G1 Rio

Imagens de janeiro de 2009  permitem comparar a esquina onde ocorreu o desabamento  (Foto: João Carlos Rebello Caribé/G1 e Bernardo Tabak/G1)Imagens de janeiro de 2009 permitem comparar a esquina onde ocorreu o desabamento (Foto: João Carlos Rebello Caribé/G1 e Bernardo Tabak/G1)
A menos de uma semana de completar dois anos, familiares das vítimas que morreram no desabamento de três prédios, na Avenida Treze de Maio, no Centro do Rio, seguem até hoje sem receber indenização. A tragédia aconteceu no dia 25 de janeiro de 2012 e matou 22 pessoas. Cinco corpos permanecem desaparecidos. Em entrevista ao G1, parentes e amigos relataram o drama vivido durante este período.
Cornélio e Margarida viviam juntos há quase 30 anos e morreram no desabamento (Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)Cornélio e Margarida viviam juntos havia quase 30
anos e morreram no desabamento em 2012
(Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)
A prima de Margarida Vieira de Carvalho, uma das vítimas do desabamento, contou que na época da tragédia a Defensoria Pública do estado prometeu que iria indenizar todos os familiares. No entanto, segundo Francisca Eunice Alves, de 41 anos, nenhum pagamento foi realizado.
"Nenhum dinheiro vai trazer a minha prima de volta, mas eu acho que, no mínimo, nós deveríamos receber alguma coisa. Minha prima não tem filhas e as irmãs dela moram no Ceará. Nunca entraram em contato com a gente. Na época, só prometeram. Até disseram que iriam nos ajudar com psicólogo, mas estamos esperando ansiosos e cansados até hoje", desabafou a dona de casa.
Os anos podem passar, mas a dor é muito grande. Nada vai apagar aquele dia"
Francisca Eunice Alves
O G1 entrou em contato com Defensoria Pública do Estado, mas até a publicação desta reportagem o órgão não enviou resposta sobre o assunto.
Margarida era mulher de Cornélio Ribeiro Lopes, zelador do prédio de 20 andares que desabou. Ele também morreu na queda. Os dois eram casados havia quase 30 anos e moravam no imóvel havia dez. "Os anos podem passar, mas a dor é muito grande. Nada vai apagar aquele dia", completou Francisca.

Burocracia
Segundo o presidente da Associação das Vítimas da Treze de Maio, Antonio Molinaro, a negociação da indenização sempre foi muito burocrática.
Dentista Antonio Molinaro perdeu cinco escritórios no desabamento  (Foto: Reprodução/G1)Dentista Antonio Molinaro perdeu cinco escritórios
no desabamento (Foto: Reprodução/G1)
“Existia uma negociação, mas cada dia era uma burocracia diferente. O que era para ser feito, nunca foi feito, nunca andou. Sempre marcavam uma reunião, mas nunca acontecia. Até hoje, as pessoas estão decepcionadas e esperando a indenização, que nunca chega”, explicou o dentista, que perdeu cinco consultórios no desmoronamento e também aguarda uma indenização do estado.
"Eu perdi toda a minha fonte de renda. Tinham todos os meus equipamentos de trabalho. Hoje, consegui recuperar tudo e montei novamente o meu consultório, mas nunca tive ajuda do estado, só de amigos. O trabalho de uma vida inteira foi perdido em minutos", lamentou.

Sem respostas
Para Nelson Gomes, amigo do amigo do auxiliar de informática Luiz Paulo Cardoso, outra vítima da tragédia, o caso não teve resposta. "Ninguém foi preso, nenhum parente foi indenizado e ainda há corpos desaparecidos. Qual a resposta para essas inúmeras perguntas? Esse buraco da falta de resposta e também da falta que cada vítima da queda faz em nossas vidas será eterno", desabafou.
Luiz era autônomo e no dia do desmonoramento foi chamado para consertar um computador em um escritório no prédio exatamente na hora em que ocorreu a tragédia.
Causa do desabamento
De acordo com o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ), a reforma realizada na empresa Tecnologia Organizacional (T.O.), que ficava no 9º andar do edifício Liberdade, foi a causa do desabamento do prédio, bem como dos dois edifícios vizinhos, o Treze de Maio e Colombo. Na época, as investigações apontaram que Sérgio Alves de Oliveira, sócio majoritário da empresa, teria determinado a obra sem o acompanhamento de engenheiros ou arquitetos.
Esse buraco da falta de resposta e também da falta que cada vítima da queda faz em nossas vidas será eterno"
Nelson Gomes
Indiciamento e processo
A Polícia Federal chegou a indiciar sete pessoas pelo desabamento do prédio, entre elas, o síndico do imóvel, Paulo Renha, que faleceu um dia antes de completar um ano da tragédia. As outras seis pessoas foram denunciadas pelo MP-RJ: Sérgio Alves de Oliveira, sócio majoritário da T.O; Cristiane do Carmo Azevedo, administradora de obras da empresa; e os pedreiros que trabalhavam na reforma, Gilberto Figueiredo de Castilho Neto, André Moraes da Silva, Alexandro da Silva Fonseca Santos e Wanderley Muniz da Silva. No entanto, a juíza Simone de Faria Ferraz, da 31ª Vara Criminal da Capital, rejeitou a denúncia contra os quatro operários.
Atualmente, segundo a assessoria do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), somente Sérgio e Cristiane são réus no processo que continua em andamento. A primeira audiência de instrução e julgamento do caso ocorreu no dia 23 de outubro de 2013. Vinte e oito testemunhas de acusação foram ouvidas. A segunda audiência está marcada para o dia 30 de janeiro deste ano.

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