O Globo - 15/01/2014
É direito da presidente Dilma usar na campanha da reeleição programas do governo que considere positivos. Entre eles, está o Minha Casa Minha Vida, de habitação popular, listado como uma de suas peças de propaganda eleitoral.
O MCMV tem relevância evidente,
diante não apenas do déficit habitacional em si, mas também da
necessidade de remoção de famílias de áreas de risco e da formalização
da moradia da família de baixa renda em todo o país. Há, ainda, o
aspecto positivo de o programa ativar a construção civil, bastante
empregadora de mão de obra.
É do compreensível interesse do
Planalto, então, ativar ao máximo repasses para a casa popular. Mas,
conforme O GLOBO revelou no domingo, uma perniciosa ligação, indireta,
entre o Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST), braço urbano do MST,
e o programa tem funcionado como fonte de alimentação de tensões em
cidades, principalmente São Paulo, com a ampliação de invasões de
terrenos.
Os métodos do Movimento dos
Tralhadores Sem Terra foram transpostos para o ambiente urbano. Como o
MTST é uma organização informal, não tem qualquer registro, igual ao
MST, são criadas entidades para receber recursos do Minha Casa Minha
Vida.
Calcula-se que os sem-teto já
foram beneficiados, desta forma, por transferências de R$ 89 milhões do
MCMV, para a edificação de 1.600 imóveis nos estados de São Paulo,
Pernambuco e Goiás. As invasões, assim, passaram a ser mais atrativas,
pela possibilidade, agora concreta, de os invasores entrarem no MCMV.
Ou seja, dinheiro de origem
pública passa a, de alguma maneira, estimular o ataque ao direto
constitucional à propriedade privada nas cidades. Segundo o próprio
movimento, já são 40 mil famílias arregimentadas no Brasil, metade delas
apenas na Grande São Paulo.
Também neste aspecto há
semelhanças com o MST, bastante ajudado pela transferência de verbas
públicas pelo Incra/Ministério do Desenvolvimento Agrário,
principalmente nos dois governos Lula, quando houve um profundo
aparelhamento político-ideológico deste setor do governo. Há notícias de
recursos liberados para supostas cooperativas ligadas ao MST, cuja
prestação de contas levanta muitas suspeitas.
Na sexta-feira, em São Paulo, uma
manifestação dos chamados sem-teto, com seis mil pessoas, tomou a
Marginal do Pinheiros — via essencial da cidade —, para pressionar o
prefeito Fernando Haddad a desapropriar uma área já reservada para um
parque. Ele resiste.
O Ministério das Cidades avisa
que não financia projetos em terrenos irregulares. Mas eles podem ser
desapropriados. Vai depender dos interesses políticos em ano eleitoral.
Demorou, mas as tensões agrárias,
sempre acompanhadas do atropelamento das leis, podem ter desembarcado
nas cidades a bordo das eleições.
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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Métodos do MST são aplicados em cidades
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