MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 4 de janeiro de 2014

Paradoxos e dificuldades de 2014



Sergio Vale
Folha de S. Paulo - 04/01/14
Enquanto o Brasil vive sua paralisia política, o mundo vai fazendo grandes ajustes de competitividade, para muito além da privatização
No início de um novo ano eleitoral, a sensação de um "déjà vu" fica cada vez mais presente.
Em 2002, havia o risco Lula, que assustou o mercado, fez a taxa de câmbio disparar e sinalizou um desajuste que não era do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), mas sim do que poderia ser o de seu sucessor.
A então oposição conseguiu galvanizar o sentimento da população de que era preciso mudar.
Agora, a situação é oposta. O risco não é mais do que virá, mas do que está aí --é o risco Dilma. A oposição que se coloca --Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB)-- é o elemento tranquilizador. Mas a disputa poderá ser ainda mais inglória do que foi em 2002.
A diferença, desta vez, é que se algum problema econômico mais grave acontecer e a situação piorar no primeiro semestre, juntando-se a manifestações durante a Copa do Mundo no Brasil, a popularidade da presidente Dilma Rousseff pode cair e as chances de vitória da oposição podem crescer. O resultado disso seria um mercado calmo, e não assustado como em 2002.
Mas, para que o impacto econômico de uma crise perdure e tenha efeitos concretos, seria necessária uma situação aguda, como foi ao longo da primeira eleição de Lula. A crise, dessa forma, não está mais do lado da oposição.
Para ganhar espaço, a oposição terá que convencer a população brasileira de que os caminhos que estão sendo traçados para os próximos anos são ruins e, sobretudo, que é preciso mudar.
Até o momento, não se espera que mudanças drásticas possam afetar o principal cabo eleitoral da presidente, que é o mercado de trabalho. Em 2002, a média do desemprego estava em quase 12%. Hoje, está em cerca de 5% e assim deve permanecer ao longo deste ano.
Já o ex-presidente Lula, outro cabo eleitoral poderoso de Dilma, também poderá ajudar o PT a conquistar pela primeira vez a liderança no Senado e na Câmara e assim tentar forçar a presidência das duas Casas.
Há um risco de tentativa de controle institucional maior por parte do PT, já que os riscos de derrota do partido ficam mais claros para 2018 do que para 2014. Um petismo onipresente a partir de 2015 deveria assustar mais institucionalmente do que a própria eleição da presidente. Nada contra o partido, mas sim contra a concentração excessiva de poder em uma única legenda.
De toda forma, está claro que Dilma deverá se apequenar ainda mais como presidente da República.
Será possível impedir que medidas esdrúxulas como o controle da mídia, seja lá o que isso for, sejam aprovadas. Mas não será possível impedir que a tensão política se acirre em um possível segundo mandato da presidente.
No limite, as brigas partidárias superlativas que se avizinham tendem a travar ainda mais qualquer pauta modernizadora que se pudesse esperar para o Brasil.
Fruto também da constatação histórica que segundos mandatos costumam ser piores devido ao desgaste de quem está no poder.
Nessa paralisia política que se delineia pelos próximos cinco anos no Brasil, o mundo vai fazendo um grande ajuste de competitividade, para muito além da privatização, que é apenas um começo.
As reformas que se veem no México, Peru, Colômbia, China, Japão e mesmo na Europa e nos Estados Unidos, que continuam fazendo ajustes estruturais severos, colocam o Brasil em situação delicada.
O Mercosul está afundando, enquanto acordos bilaterais mais vantajosos se proliferam em outros países. Processos de automação se ampliam na China e nos Estados Unidos, tomando espaço na base da pirâmide salarial e educacional.
Neste mundo, será que simplesmente esperar por uma depreciação cambial é o caminho para nos tornarmos mais eficientes? Ou deveríamos ser mais ousados na busca de competitividade?
São esses os dilemas e as dificuldades que devem passar ao largo da discussão que deveria ser feita em 2014. Infelizmente, veremos mais promessas de ampliação de Bolsa Família e do salário mínimo, que, no frigir dos ovos, é o que tende a reeleger a presidente.
SERGIO VALE, 37, mestre em economia pela Universidade de São Paulo, é economista-chefe da consultoria MB AssociadosOs artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br 
VERDADE SUFOCADA

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