Manifesto da Rede trata PSB como seu cavalo de Tróia, por
João Bosco Rabello, no Estadão
O ataque dos integrantes da Rede à aliança entre PSB e PSDB
em Minas põe em xeque a solidez do pacto entre Aécio Neves e Eduardo Campos,
por atingir um Estado-chave no acordo de
reciprocidade firmado pelos dois candidatos, envolvendo suas bases mais caras –
aquelas por onde se elegem e que governam com amplo índice de aprovação
popular.
Aécio e Campos selaram esse acordo em seus Estados, que
incluiu o PSDB no governo de Pernambuco, movimento que deverá se repetir em
Minas com o PSB ganhando assento na estrutura do governo de Antonio Anastasia.
O movimento da Rede, nesse caso, não se dilui no cenário de
discussões rotineiras dos partidos, mas afronta diretamente um pacto pessoal
entre os dois candidatos. Se respaldado por Marina Silva, como dita a lógica, é
uma censura e um veto aos dois candidatos.
Quando Marina investiu contra o deputado Ronaldo Caiado
(DEM-GO), um dos perfis mais expressivos da corrente parlamentar vinculada ao
agronegócio, provocou a indagação geral de qual seria o limite para as
intervenções da Rede no processo de costura política que já encontrara meio
caminho andado no PSB.
O ato da ex-senadora produziu efeito definitivo. Campos
entrou em cena, atenuou as reações dos ruralistas, mas não conseguiu
restabelecer o canal com o setor, que já exigia uma paciente construção antes
do episódio. Passado algum tempo, veio o veto à aliança com o PSDB em São Paulo, indicando que a Rede não se
sente limitada por qualquer sentido de composição com os socialistas.
O caso de Minas vem em tom panfletário, mais identificado
com o PT, ao pregar a candidatura própria para estancar “o rodízio de velhos
grupos no poder e há muito tempo incapaz de ousadia e inovação”.
Não será difícil encontrar esse tipo de conteúdo em textos
do Psol, que também pretende fazer uma política sem alianças. A questão é que
Marina e o PSB têm uma aliança, o que pressupõe negociações de posições. O que
parece – e as aparências têm importância na política -, é que a Rede toma
iniciativas e lhes dá publicidade à revelia de Campos, mas não de Marina,
considerando o silêncio desta.
O que mais chama a atenção no texto panfletário distribuído
ontem pela Rede é a extensão do princípio da candidatura própria a todo o país,
apagando a impressão inicial de que Marina negociaria posições com Campos em
estados que lhe fossem mais estratégicos no mapa eleitoral brasileiro.Mas, pelo texto da Rede, não: sem registro e acampada no
PSB, comunicou à nação que “a construção de candidaturas independentes nas
eleições de 2014 é a perspectiva que a Rede propõe a Minas e ao país”. É uma
declaração pública de que pretende fazer do PSB seu cavalo de Tróia para
antecipar candidaturas de seu interesse antes de existir como um partido
formalmente criado.
O propósito divide uma aliança que se pretende fator de
unidade para a meta comum de encerrar o ciclo do PT no poder, conforme
definição da própria Marina. Para tanto, precisam do pacto de não agressão
selado entre Campos e Aécio.
Do contrário, o comportamento da Rede levará ao isolamento
de Campos, dando razão a Aécio quando considerou que rompimentos como o pregado
por Marina em São Paulo, afetam mais o PSB que o PSDB.
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