MEDIÇÃO DE TERRA

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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Venda de moto bate recorde no Nordeste mas pode desacelerar


por
Bárbara Ladeia - iG São Paulo
Publicada em TRIBUNA DA BAHIA

O mercado nordestino tem sido o principal patrocinador dos resultados positivos do mercado de motocicletas. Em dezembro passado, as vendas de motos no Nordeste bateram recorde: 40,64% de participação no total de vendas no Brasil, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição deVeículos Automotores (Fenabrave).
A evolução da região tem sido consistente. Em 2003, por exemplo, apenas 25,90% das vendas de veículos duas rodas no País vinham do Nordeste.
O crescimento consistente tem a ver com a demanda reprimida e com o aumento da renda média na região. O parcelamento da compra e o valor de uma moto é um facilitador para quem sonha ter o primeiro veículo.
Segundo simulação feita pelo iG no site do Consórcio Honda, quem mora na Bahia pode ter uma CG 150 (modelo Titan ESD), a mais vendida no País em 2013, com o pagamento de 72 cotas de R$ 146,97. Uma Honda Biz 100KS sai por menos: 72 parcelas de R$ 96,32.
Mas a expansão do mercado nordestino, que tem sido um alívio para as fabricantes – as vendas totais de motos em 2013 tiveram uma retração de 7,44% – pode estar com os dias contados. Embora oconsórcio seja responsável por 40% das compras de motocicletas no Nordeste, o aperto no crédito que tem alimentado a boa fase das concessionárias pode interromper a trajetória de crescimento.
A mesma restrição do crédito que já acertou em cheio o mercado de automóveis e o setor de motocicletas no Sudeste pode estar começando a chegar por lá.
A terceira maior cidade do estado da Bahia, Vitória da Conquista, tem cerca de 330 mil habitantes e fica a seis horas da capital, Salvador. Lá o mercado já dá pistas de que vai começar a esfriar, segundo Victor Vinícius Boaventura Oliveira Almeida, gerente administrativo da Rodaleve Motors, concessionária do sudoeste baiano.
“Nos anos anteriores o crescimento foi bem maior que em 2013. Possivelmente terminamos 2013 com uma redução de 10% nas vendas frente a 2012”, diz o gerente.
Mesmo contando com o braço forte do maior consórcio do País, o Consórcio Nacional Honda, a limitação de crédito já está estrangulando o comércio local. “Houve uma época em que o banco financiava 100% da moto. Desde que as exigências começaram a aumentar viemos nos mantendo, mas esse ano o mercado pesou.” Lá, Almeida vende, em média, 100 motocicletas por mês – dessas, entre 50 e 70 saem por consórcio.
Efeito mototáxi
Almeida considera as vendas tímidas. Principalmente se considerar outra lojas da rede como a unidade de Feira de Santana que, com o dobro de habitantes, vende quase três vezes mais. Lá, a vantagem está no mototaxi. “Seria formidável se os mototáxis fossem permitidos aqui em Conquista também, mas a prefeitura é bem inflexível.” A prova do efeito mototaxi fica bem clara em Guanambi, onde mesmo com 84 mil habitantes, o volume de venda é semelhante ao de Vitória da Conquista, onde a população é quatro vezes maior.
No entanto, pode haver um revés em vender tanto para os mototaxistas. Tadeu Vasconcelos, gerente comercial de duas concessionárias Yamaha na Paraíba, conta que esse é o público com mais dificuldades em manter as contas em dia. “Eles se endividam, não conseguem mais tomar crédito, param de pagar a moto e ainda ficam sem poder de renovação do veículo”, diz.
Em outras palavras, há uma frota começando a envelhecer nas ruas paraibanas, sem a previsão de reposição. “O mercado está um pouco saturado.”
Expansão do público
Também têm a chegada das mulheres neste mercado. Na Motosul, em Teixeira de Freitas, na Bahia, o gerente comercial Ademilson Vilas Boas diz ver uma avalanche de mulheres em busca das motos de baixa cilindrada. Elas ainda não representam a maior parte das vendas, mas a aceleração é crescente.
Mesmo com essa característica, lá a restrição de crédito também começa a apertar o mercado. No entanto, Vilas Boas também vê alguma saturação nas ruas. “Para se ter ideia, em agosto do ano passado, que foi um mês ruim, vendemos o mesmo número de motos que em 1994, durante todo o ano”, diz. “As vendas já subiram demais. É difícil continuar nesse ritmo.”
Zona rural
A escolha do nordestino pela moto tem uma outra justa razão: boa parte desses veículos tem como destino a zona rural. Na roça, os cavalos foram e têm sido trocados por motocicletas.
Vasconcelos coordena duas lojas da Yamaha – uma em Mamanguape e outra em Guarabira, cidades com 42 mil e 56 mil habitantes, respectivamente. Ele destaca que ao contrário dos mototaxistas, os clientes da zona rural – que representam 70% do total – tendem a ser adimplentes e renovam mais frequentemente suas frotas.
Mesmo com essa experiência positiva com seus clientes rurais, o gerente já enxerga um mercado mais retraído na região. “Outros colegas de outras cidades aqui no entorno, estão sentindo uma redução de 25% a 30% nas vendas no ano passado.” Em 2013, a unidade de Guarabira, exemplo, vendeu em média 35 motos por mês, mas Vasconcelos vê potencial para 15 motos por mês.
Mercado mais democrático
Na avaliação do presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção, é justamente essa opção rural que fortalece o mercado do Norte, Nordeste e, no futuro, do Centro-Oeste. “Hoje a moto substitui a tração animal”, explica.
O avanço na renda média do cidadão também faz toda a diferença. A própria Honda entende que esse é um dos principais fatores de impulsão do consumo “Clientes que até então não tinham acesso a veículos motorizados passaram a ter condição de adquirir sua primeira motocicleta”, afirma Alexandre Cury, gerente geral Comercial da Moto Honda da Amazônia.
A motocicleta acaba sendo a primeira aquisição de algum bem de maior valor. “Uma moto de baixa cilindrada custa entre R$ 6 mil e R$ 7 mil. Com esse dinheiro, você consegue um carro antigo e deteriorado”, afirma. “No ano passado, o preço médio de uma moto foi de R$ 7,4 mil e de um carro foi R$ 37,9 mil. A diferença é enorme", diz Cury.
No entanto, Assumpção pondera que esse processo de migração de classe já fez seu maior movimento. Daqui para frente, o crescimento tenderá a ser incremental. “Com os juros crescentes, o mercado fica comprometido por que o dinheiro acaba direcionado às prioridades.”
A Honda, no entanto, não vê o movimento como um boom, mas sim como um “amadurecimento” do mercado. “Trata-se de um mercado com grande potencial. As boas vendas nessas regiões devem perdurar. Além disso, a mudança do cenário do ambiente rural, com a substituição dos tradicionais animais de transporte por motocicletas também seguirá contribuindo para as vendas”, aponta Assumpção.
A alta de juros deverá levar ainda mais clientes para as cartas de consórcio, principalmente no Centro-Oeste. “Lá o grande negócio são os grãos. O agronegócio tem dado sustentação ao Brasil neste mercado”, afirma.

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