LUCAS PRATES
Saiba como o problema de mudança climática global afeta o seu dia a dia
Dono de um sítio de pouco mais de dois hectares na Zona da Mata, Hélio perdeu a safra do milho

O clima está “maluco”, como muitos gostam de caracterizar. Basta lembrar do último período chuvoso, que registrou baixos índices de pluviosidade. Agora, as temperaturas do início da primavera, de tão altas, nos fazem sentir saudades até do verão. Evidências claras, segundo especialistas, das mudanças climáticas globais provocadas pela ação do homem. E como isso tudo influencia no nosso cotidiano?
Divididas em quatro temas, o Hoje em Dia identificou consequências das alterações do tempo que nos afetam diretamente.

Corpo e mente
No quesito saúde, os extremos do clima causam efeitos colaterais ao homem. Quando chove muito, por exemplo, explodem os casos de dengue e de outras doenças transmitidas por mosquitos, que se proliferam graças ao binômio calor e água parada.
“Favorece as doenças transmissíveis como a malária e, mais recentemente, a chicungunha. Enchentes espalham a leptospirose”, diz o pesquisador da Fundação Osvaldo Cruz, Ulisses Confalonieri. Já a falta de chuva ajuda a piorar a qualidade do ar, especialmente nas grandes cidades. Crianças e idosos são os mais suscetíveis ao desenvolvimento de asma, bronquite e pneumonias.
Apesar da estiagem prolongada, até setembro, foram registrados mais de 120 mil casos de dengue em Minas. A explicação está no fato de a população ter mantido reservatórios para driblar a crise hídrica.

Dentro do lar
A escassez de água é considerada outra anomalia climática que afeta o cotidiano das pessoas – 2015 foi o ano do risco de racionamento. Em Minas, a população foi convocada a economizar 30% no consumo para evitar cortes no abastecimento.
Ainda dentro de casa, o calorão tira o sono. Picos de temperatura no verão e no próprio inverno são motivo de desconforto na hora de dormir.
“Tem 50 anos que o planeta está sofrendo os impactos das mudanças climáticas, que receberam diferentes nomes nesse meio século. Na prática, todas a Terra está percebendo os efeitos. Regiões com chuvas mais prolongadas produzirão maiores safras? Não é o que está ocorrendo”, diz o cientista Milton Nogueira, perito revisor do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, composto por delegações de 130 governos para prover avaliações regulares sobre o aquecimento global.

Fenômenos extremos resultam em alimentos mais caros
A produção agrícola depende da previsibilidade climática, mas a desordem nas condições do tempo tornam a atividade um investimento de risco. E quando algo dá errado, quem paga a conta é o consumidor final.
A safra de milho perdida por causa da estiagem representou um reajuste de 33% no quilo do fubá comercializado pelo pequeno produtor rural Hélio Silveira, que expõe há 25 anos em uma feira ao ar livre na rua Grão Pará, no Santa Efigênia (região Leste).
A estiagem do ano passado, lembra ele, atrapalhou a colheita, transformada em ração para o gado. “Tive de comprar o fubá pronto na Ceasa. Venderia o quilo a R$ 1,50, mas o valor subiu para R$ 2”, lembra Silveira. “Antigamente, a chuva e a estiagem vinham no tempo certo. Agora, não temos como prever nada”.
Fora de casa
Para quem está na rua, os efeitos das mudanças climáticas podem ser sutis, como aquele desconforto ao caminhar debaixo de sol “rachando” em pleno inverno.
Não raro, surgem também intensamente, na forma de trágicas trombas d’água causadoras de alagamentos e até mortes. “Eventos extremos são sintoma de desarranjo global no clima”, lembra o pesquisador da Fundação Osvaldo Cruz Ulisses Confalonieri.
                                      Arte
Saiba como o problema de mudança climática global afeta o seu dia a dia