Usiminas/Divulgação
Usiminas e Gerdau sentem a crise e têm desempenho desalentador
REFLEXO – Usiminas anunciou a paralisação da produção primária na usina de Cubatão (SP)

Mesmo com o aumento das exportações para aproveitar a valorização do dólar frente ao real e um severo programa de redução de custos, o cenário para as fabricantes de aço do país é desalentador. O ambiente hostil no mercado doméstico e transoceânico veio à tona nessa quinta (29) com a divulgação do desempenho financeiro de duas das principais siderúrgicas do país – Usiminas e Gerdau. Juntas, elas contabilizaram apenas no terceiro trimestre do ano R$ 3 bilhões em prejuízo, sendo R$ 1,042 bilhão da Usiminas e R$ 1,958 bilhão da Gerdau.
Em situação mais complicada, com endividamento em patamares elevados em relação a suas receitas, a Usiminas adotou uma série de medidas para conter a deterioração de seus indicadores. O presidente da companhia, Rômel Erwin, anunciou nessa quinta em teleconferência com analistas de mercado a paralisação da produção primária na usina de Cubatão (SP), o corte pela metade dos investimentos para 2016, além da tentativa de vender ativos considerados “não estratégicos”.
A interrupção da produção em Cubatão vai gerar a demissão de 2 mil trabalhadores diretos. A Usiminas disse que os cortes não afetarão operações em Minas Gerais.
A produção primária se refere à produção de placas de aço e sua interrupção consiste no abafamento do alto-forno 2, da aciaria, da sinterização e da coqueria, todos equipamentos da unidade de Cubatão. Mas os desdobramentos têm potencial para afetar as operações da companhia em Minas, sobretudo a Mineração Usiminas, com quatro minas na região de Serra Azul.
Como parte do minério produzido na unidade é direcionado à planta de Cubatão e isso não será mais necessário, a empresa deve operar em ritmo mais lento na produção de minério.
Entre os ativos considerados não estratégicos e praticamente colocados à venda pela companhia está a Usiminas Mecânica, empresa de bens de capital, com unidades em Ipatinga, Congonhas e Cubatão. A companhia informou que também existem imóveis da empresa que podem ser alienados.
Romêl Erwin citou o “agravamento progressivo das condições de mercado” para justificar as medidas tomadas e disse que vai colocar a Usiminas em novo patamar de escala e produtividade. “A situação reflete em nosso números. São números contundentes que exigem de nós gestores ações contundentes”, disse.
O impacto positivo dessas decisões no balanço financeiro da empresa não são aguardados no curto prazo. “As medidas não terão nenhum impacto de imediato, são melhorias que vão se acumulando e no início serão até responsáveis por aumento de custos”, observou o vice-presidente de Finanças, Ronald Seckelmann.
Em Ipatinga, a Usiminas já havia interrompido a produção de um de seus três altos-fornos e informou que permanecerá em trabalho de otimização de custos. Sobre demissões, confirmou cortes na usina de Cubatão, mas não mencionou desligamentos em Minas. “Não estão previstas paralisações (em Ipatinga), mas há um trabalho contínuo de otimização de custo, busca por produtividade, redução e controle do capital de giro, controle do volume de investimento, redução e controle das despesas gerais e administrativas”, informou.
Para este ano, a previsão de investimentos é de R$ 750 milhões. Em 2016 a empresa prevê metade disso.
Gerdau sofre com os impactos da valorização do dólar
Influenciado por eventos não recorrentes, o balanço financeiro do grupo gaúcho Gerdau, com operações em Ouro Branco, em Minas, registrou um prejuízo líquido de R$ 1,9 bilhão no terceiro trimestre do ano. Nos três meses anteriores a companhia havia contabilizado lucro líquido de R$ 265 milhões.
Apesar das baixas contábeis no período, o desempenho da empresa foi positivo com aumento de venda de aço e da receita líquida. O lucro ajustado, com a retirada desses eventos não recorrentes, foi de R$ 193 milhões, equivalentes à retração de 27% sobre os R$ 265 milhões de lucro registrados no 2º trimestre.
A Gerdau sofreu impactos da valorização do dólar sobre seu endividamento, uma vez que 80% das dívidas são em moeda estrangeira. Por ser uma companhia global, esse efeito do câmbio será gradualmente compensando pelas receitas em dólar que a empresa possui.
“Em um primeiro momento sentimos forte (o efeito do câmbio), mas temos muita receita em dólar e a tendência é a de que em um ou dois trimestres tenhamos a redução da alavancagem”, disse o diretor financeiro da Gerdau, Harley Scardoelli. A relação Dívida Líquida/EBITDA (geraçaõ de caixa) passou de 3,1 para 3,2 vezes do segundo para o terceiro trimestre.
Segundo o presidente da companhia, André Gerdau, uma oferta pública de ações terá sua receita direcionada para a amortização de dívidas, a fim de manter sob controle o nível de endividamento.
A empresa garante que está mantida a operação, a partir de 2016, do laminador de chapas grossas em Ouro Branco. A empresa entrou no mercado de aços planos e terá um centro de industrialização e comercialização deste tipo de aço na cidade.
Somente de impairment a companhia teve uma baixa de R$ 1,9 bilhão, e esse é o maior impacto de eventos não recorrentes. O impairment é uma revisão nos ativos que as empresas realizam periodicamente para medir a deterioração deles, o que pode ser causado por vários fatores, como o desgaste pelo uso, que faz os equipamentos perderem valor.

Usiminas e Gerdau sentem a crise e têm desempenho desalentador