A crise econômica,
política, social e moral que abala o ânimo dos brasileiros começou com o
sr. Lula da Silva. Em editorial, o Estadão analisa "como olhar a crise":
A atual crise
brasileira vem de longe. Com uma seletiva falta de memória, alguns falam
dos maus tempos que o País atravessa como se eles tivessem começado no
ano passado, com a chegada de Michel Temer à Presidência da República.
Outros, ainda menos afeitos aos fatos, comentam as instabilidades
nacionais como se sua origem pudesse ser encontrada no mês passado, com o
vazamento da delação do sr. Joesley Batista. Tais visões são
evidentemente deformadas. A crise política, econômica, social e moral
que tanto abate o ânimo dos brasileiros começou com o sr. Lula da Silva,
com a apropriação da administração federal, de alto a baixo, para fins
partidários. Foi na chegada do PT ao governo federal, há mais de uma
década, portanto, que o cumprimento da lei, o interesse público e o
respeito às instituições perderam relevância na tomada de decisões.
Logicamente, uma
crise com essas feições, cevada ao longo de tantos anos e especialmente
turbinada pela ignorância e o voluntarismo de Dilma Rousseff, semeia
muitas dúvidas a respeito da viabilidade do País e de suas instituições.
E não foram apenas erros na condução da política econômica. Os
escândalos de corrupção e as licenciosidades com a lei, também por parte
de quem deveria cumpri-la exemplarmente, contribuem para pôr em questão
a capacidade de o Brasil retornar aos trilhos do desenvolvimento
econômico e social.
Nesses momentos de
horizonte opaco, em que recai sobre o futuro nacional densa neblina de
incertezas, é preciso redescobrir os fundamentos sobre os quais seja
possível construir soluções efetivas. Ao contrário do que alguns dizem,
nem tudo está perdido. Nessa tarefa de olhar o cenário da vida nacional
com serenidade, pode ser útil aprender com os investidores estrangeiros,
como aponta Zeina Latif, em sua coluna de quinta-feira passada no
Estado. “Os estrangeiros, menos contaminados pelo noticiário local,
avaliam de forma mais serena e pragmática os riscos pela frente”, diz a
economista.
Para essa avaliação
mais serena, não é preciso fechar os olhos à realidade. O que faz falta é
justamente olhar mais longe, ampliando os limites da vista. “Os
estrangeiros têm visão mais global e não veem o Brasil como caso isolado
de país problemático. Depois de Brexit e Trump, esses investidores
parecem um pouco anestesiados. Nada os surpreende tanto assim. Muitos
minimizam os riscos para a eleição de 2018, dizendo que, nos EUA, eles
têm o Trump”, afirma Zeina Latif.
Outra característica
valiosa dos estrangeiros, que afeta o seu olhar sobre o Brasil, é a
tendência ao pragmatismo e à ação. Os estrangeiros “querem saber mesmo o
que vem pela frente: como fica a agenda de reformas, o time econômico, a
política econômica, o risco de deslize fiscal e o espaço para cortar a
taxa de juros. Querem discutir as oportunidades”.
Certamente, tal
pragmatismo é muito importante para que o País possa reencontrar os
rumos do desenvolvimento. Sem esse dinamismo, até mesmo o que é em si
positivo, como a investigação de crimes praticados por agentes do
Estado, dando oportunidade para interromper a prática criminosa e punir
os culpados, torna-se ocasião para simples lamúria e letargia. “Ainda
que o quadro recomende cautela, é importante não se deixar contaminar
excessivamente pela crise política na tomada de decisões. Cautela sim,
retranca não”, diz Zeina Latif.
A saída da crise não
virá, como alguns parecem fazer crer, de uma decisão judicial pondo o
último corrupto na cadeia. Além de utópica, já que nunca chegará esse
dia, tal crença só conduz à passividade, como se a população tivesse de
esperar o fim da crise para empreender, trabalhar, contratar, etc. A
esse respeito, deve-se aprender também com o governo de Michel Temer,
por muitas que sejam suas deficiências. Mesmo com o cenário conturbado,
realizou significativos ajustes na economia e continua disposto a levar
adiante as tão necessárias reformas. O País está hoje melhor do que
estava um ano atrás. E talvez os estrangeiros percebam esse fato mais
facilmente do que os próprios brasileiros.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário