Mais uma prova de que,
nas universidades, há mais preocupação com ideologias do que com
conhecimento científico. Mesmo com sinais de que o modelo bolivariano
fracassaria miseravelmente, como todas as experiências socialistas,
alguns pesquisadores brasileiros ficaram ao lado de Chávez e Maduro.
Matéria de Murilo Basso, publicada pela Gazeta do Povo:
O agravamento da
crise política e social na Venezuela é evidente e chegou a provocar
divergências entre integrantes da esquerda brasileira, tradicional
entusiasta dos governos Hugo Chávez e Nicolas Maduro. Se, por um lado, a
presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), defende abertamente o
regime bolivariano, esquerdistas convictos como o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) têm criticado o governo do país vizinho.
Já no âmbito
estudantil, pouco de concreto se vê por parte das entidades
representativas – a UNE (União Nacional dos Estudantes), por exemplo, declarou apoio ao regime chavista diversas vezes.
Mas o mais curioso é
olhar para alguns trabalhos acadêmicos, em especial os produzidos em
universidades públicas: da tese do ex-ministro Aloizio Mercadante, que
via a Venezuela como o país do futuro, até artigos que apontam “o
socialismo como alternativa inevitável a um capitalismo decadente”, há
inúmeras análises sobre os regimes de Chávez e Maduro que hoje soam
constrangedoras. Veja cinco delas.
1) Venezuela, o país do futuro
Aloizio Mercadante é
figura conhecido na política nacional; um dos principais nomes do PT,
foi ministro da Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação e
ministro-chefe da Casa Civil.
Em 2010, Mercadante
obteve o título de Doutor em Economia pela Unicamp (Universidade de
Campinas) com uma tese que cita a Venezuela diversas vezes de forma
elogiosa.
“Foram superados os
regimes autoritários e a perspectiva de retrocessos parece ser cada vez
mais improvável, embora tenham ocorrido canhestras tentativas de golpes
de Estado, na Venezuela e em Honduras, em períodos recentes. As
eleições, de modo geral, têm sido limpas, a imprensa funciona
livremente, com problemas pontuais em algumas nações, e a organização
partidária evoluiu”, escreveu.
Mercadante ainda cita
e corrobora uma previsão do economista citar Celso Furtado: “Nos
próximos dois decênios, a Venezuela poderá ter saltado a barreira que
separa subdesenvolvimento de desenvolvimento, sendo quiçá o primeiro
país da América Latina a realizar essa façanha”.
Autor: Aloizio Mercadante
2) Socialismo: alternativa a um capitalismo decadente
Em um artigo
publicado pelo Departamento de Geografia da UDESC (Universidade do
Estado de Santa Catarina), o processo venezuelano de recuperação
econômica é exaltado.
A conclusão, após
pouco mais de dez páginas, aponta o socialismo como alternativa
inevitável a um capitalismo decadente. “Sua construção é expressão do
amadurecimento dos movimentos populares e fortalecimento da força
sindical por meio da ampliação dos espaços democráticos”, dizem os
autores.
“Através da
organização popular milhões de venezuelanos, antes apenas objetos da
manipulação das elites, permitem-se exercer o comando da sua própria
história. A busca do socialismo do século XXI na Venezuela ampliou o
papel do Estado na economia com nacionalizações, controle de preços e
parcerias público-privadas”, completam.
Autores: Gabriela Miqueloto Schmitz e Lucas dos Santos Ferreira
3) Operários no poder
Uma dissertação de
mestrado defendida em 2016 na UFMG (Universidade Federal de Minas
Gerais) afirma que o processo vivido na Venezuela coloca o trabalhador
como protagonista na construção de uma nova sociedade.
“O que há de
específico na experiência venezuelana é o processo de transformação
social impulsionado pela Revolução Bolivariana, que promove o
questionamento ao capitalismo e reivindica sua transformação”, escreva a
autora.
O modelo de
organização dos trabalhadores venezuelanos, porém, não parece tão
eficaz: o percentual de pessoas abaixo da linha de pobreza aumentou
quase nove pontos de 2015 para 2016, atingindo 81,8% dos lares, segundo a
Pesquisa sobre Condições de Vida na Venezuela (Encovi).
Já o PIB do país caiu
18% em 2016 e deve recuar mais de 7% este ano. A inflação foi de 254,9%
no ano passado e deverá alcançar 720,5% em 2017. A previsão de
desemprego é de 25,3% para 2017, um aumento de 4% em relação a 2016.
Mas, segundo a
dissertação, o Movimento Operário Venezuelano remedia uma dívida social
histórica “no que se refere a condições dignas de vida para toda a
população e, por outro lado, resgatar a história e o acúmulo de
conhecimento geral da humanidade, para serem postos a disposição da
classe que constrói sua própria realidade através do trabalho: o
proletariado”.
Autora: Julia Mariano Pereira
4) Socialismo inevitável
O “processo
revolucionário” da Venezuela é a vanguarda das lutas sociais na América
Latina, de acordo com uma dissertação publicada na UFSC (Universidade
Federal de Santa Catarina) em 2013.
“Tratamos de
apresentar a Nova Política Econômica como uma alternativa
anti-autoritária, de longo prazo, rumo ao socialismo. Não obstante, as
medidas adotadas pelo Estado, nacionalizações de empresas em setores
estratégicos, controle do cambio, acordos comerciais bilaterais, criação
de cooperativas, etc. junto à grave recessão que o país mergulhou com a
crise financeira mundial em 2008, não impediu que os programas sociais
fossem suspensos, insistindo no forte compromisso Ético a qual o "Estado
Bolivariano" assumiu com a nação”, escreve o autor.
A pesquisa conclui
ainda que um dos grandes culpados pela polarização política e social
venezuelana não é a “falta de pluralidade partidária – e a venda da
democracia participativa do 1º governo chavista – que estaria cada vez
mais fazendo surgir um Estado autoritário – semelhante ao socialismo do
século XX”, mas sim pela burocratização, não apenas do estado, mas
também dentro das fábricas, que “contam com gerentes
contrarrevolucionários, que permaneceram no corpo administrativo das
empresas, obstruindo o processo produtivo através de sabotagens”.
Autor: José Victor More Ramos
5) Um bom modelo educacional
O modelo venezuelano
para a educação é elogiado em dissertação de mestrado da Unioeste
(Universidade Estadual do Oeste do Paraná). “As múltiplas transformações
ocorridas na Venezuela durante os governos Chávez inflaram e
condicionaram a implementação de um sistema nacional de educação
condizente com a necessidade do povo venezuelano”, diz o trabalho.
O governo chavista é
apontado como protagonista da melhoria. “As estatísticas comprovaram
que, nos mandatos de Chávez, os avanços sociais e educacionais foram
expressivos e que não seriam alcançados sem vontade política e um plano
governamental e de Estado que abrangesse, na totalidade, um conjunto de
ações articuladas e simultâneas nas esferas econômica, política, social e
cultural”, completa.
De fato, alguns
índices cresceram durante a primeira fase do governo Chávez, mas a
verdade é que eles se mostraram pouco duradouros: em 2016, segundo dados
das próprias entidades sindicais do país, em média 30% dos professores não compareciam as aulas diariamente.
Desde então, a
Venezuela quase não divulga dados educacionais. O país também não
participou das últimas avaliações do PISA (Programa Internacional de
Avaliação de Alunos), método reconhecido mundialmente para avaliar a
educação.
Autora: Bruna da Silva Alvez.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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