MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 24 de setembro de 2017

Funaro e a JBS discutiram uma “defesa alinhada” no escritório de Mariz


Mariz teve de abandonar a defesa do amigo Temer
Cleide Carvalho e Gustavo Schimtt
O Globo
O delator Lúcio Funaro afirmou ter feito uma reunião com o advogado da J&F Francisco de Assis, grupo que controla a JBS, no escritório do advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira. A reunião ocorreu, segundo o delator, no início de 2016. O objetivo seria demonstrar que a defesa de Funaro, que, àquela época, já ameaçava fazer delação, seria “alinhada” com o que pretendia o empresário Joesley Batista. Mariz deixou a defesa do presidente Michel Temer nesta sexta-feira, alegando conflito por já ter defendido Funaro, que ataca o presidente em sua delação.
Segundo o depoimento de Funaro a que o Globo teve acesso, o objetivo da reunião no escritório de Mariz “era deixar Francisco (advogado da J&F) a par da estratégia de defesa, demonstrando assim que as partes estavam alinhadas”. O doleiro disse ainda que caso Joesley ou seu advogado discordassem de algum ponto de sua defesa poderiam, de imediato, interferir e apontar o problema. Na prática, “Joesley queria companhar de perto, minuciosamente, qual seria a linha da defesa técnica” de Funaro e podia, inclusive, sugerir estratégias.
SONDAGEM – Em junho passado, Funaro havia dito à Polícia Federal que o escritório de Mariz havia sido o primeiro a sondar seu interesse em fazer colaboração premiada.
Funaro contou no depoimento que seu escritório foi alvo de busca e apreensão na Operação Catilinárias e que logo depois recebeu a indicação de contratar Antonio Mariz. Três dias depois da operação, em 18 de dezembro, foi chamado para uma reunião na casa de Joesley, que queria saber se “algo comprometedor’ havia sido apreendido pela Polícia Federal. O empresário, segundo ele, já tinha em mãos uma cópia da ação cautelar que deflagrou a operação. Joesley teria lhe dito que conseguiu uma cópia com um advogado que conhecia em “razão de uma venda de uma fazenda”.
O doleiro afirmou ter ouvido de Joesley frases como “vamos tocando juntos”, “vamos amarrar as pontas”, o que significava, na prática, um acerto para que combinassem versões.
“CALA BOCA” – No encontro na casa de Joesley teria sido combinado o “cala boca” a Funaro e, na mesma semana, Joesley e Assis fizeram uma proposta de fazer um contrato guarda-chuva, com data retroativa a 2012, para dar aparência de legalidade a negócios já feitos. A J&F passaria a ter uma justificativa para os repasses de propina às empresas de Funaro e o doleiro poderia ter certeza que o grupo J&F continuaria a lhe fazer os pagamentos devidos.
Segundo o doleiro, o contrato foi feito em duas vias, assinado e, em seguida, o original foi destruído. A intenção era que o original não pudesse ser periciado. O empresário Natalino Bertin também teria sido chamado a fazer o pacto.
Funaro disse ter dito a Joesley, num segundo encontro, que o ex-deputado Eduardo Cunha “estava se segurando”. Ou seja, ameaçava falar. Joesley teria então orientado Funaro a “sair na frente” – fazer antes uma delação premiada resguardando a J&F. Segundo o doleiro, o empresário temia que ele e Cunha se juntassem para delatar seus “parceiros políticos” e queria garantir que Funaro permanecesse “fiel”.
PAGAMENTOS – O doleiro relatou que o advogado da J&F foi diversas vezes em sua casa, durante todo o primeiro semestre de 2016, para acompanhar sua situação processual.
Numa das vezes, estava presente Dante, irmão do doleiro, e Funaro teria dito que caso lhe acontecesse algo qualquer necessidade de dinheiro seria suprida pelo Grupo J&F, por meio de contatos com Assis ou com o próprio Joesley.
Funaro foi preso no dia 1 de junho de 2016. Seu irmão Dante procurou Assis e a J&F fez dois pagamentos de R$ 600 mil em espécie, em julho e agosto. Os demais pagamentos foram feitos para a irmã de Funaro, Roberta – um de R$ 600 mil em setembro e sete de R$ 400 mil cada nos meses seguintes. Os pagamentos, segundo o doleiro, mostravam que Joesley estava cumprindo o pacto, o que lhe deixava tranquilo porque sua família estava financeiramente segura. Funaro diz que o empresário também se sentia seguro porque sabia que ele não tomaria nenhuma medida contra os interesses da J&F.
Os pagamentos a Funaro foram comentados por Joesley Batista – e gravados – durante encontro com o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu.
MARIZ NÃO LEMBRA… – Antonio Mariz afirmou ao Globo que não se lembra da presença do advogado da J&F em seu escritório, mas não descarta a possibilidade de Francisco de Assis ter acompanhado Funaro em alguma ocasião.
“O Funaro é louco varrido. O Joesley nunca esteve no meu escritório. O Francisco pode ser que tenha ido acompanhando Funaro, não me lembro “- disse o advogado.
Mariz foi advogado de Funaro de 2015 a maio de 2016. Na época, o ex-diretor de Relações Institucionais do Grupo Hypermarcas, Nelson Mello, havia dito em delação que pagou propina ao PMDB por meio do doleiro. O advogado afirmou que, na ocasião, sua recomendação a Funaro foi a de se pronunciar apenas nos autos, mas o doleiro acabou se antecipando e falando – o doleiro confirmou os pagamentos.
DEIXOU O CASO – Segundo Mariz, Funaro teria começado a negociar a delação em abril de 2016 e ele deixou o caso logo a seguir, pois não atua com colaboração premiada. Disse que seu trabalho foi elogiado pelo doleiro e que chegou a devolver a Funaro parte dos honorários que havia recebido.
“Depois recebi um telefonema e ele gritava. Insinuou que eu tinha vazado a delação dele. Mas o Brasil inteiro sabia que ele queria fazer delação. Todos sabiam. Eu não falei nada (sobre a delação)” – explicou.
A J&F informou, por meio de nota, que “os colaboradores apresentaram, dentro dos prazos legais estabelecidos, as informações e documentos que complementam os esclarecimentos prestados previamente à Procuradoria-Geral da República e continuam à disposição para cooperar com a Justiça”.
Posted in

Nenhum comentário:

Postar um comentário