SÃO PAULO (SP) – Existe uma máxima de que a temperatura da economia brasileira é medida pelo mercado de caminhões. E há uma grande lógica nisso. Afinal, esses veículos correspondem a 90% do transporte de cargas do país, uma vez que o modal ferroviário foi relegado ao esquecimento. E a temperatura está subindo, pelo menos é o que entoa o coro dos fabricantes que montaram seus estandes no São Paulo Expo, na 21ª edição do Salão Internacional do Transporte Rodoviário de Carga (Fenatran).
Montadoras parecem ter combinado o discurso confiante na retomada da economia e projeções de crescimento de 20% do setor em 2018. Sem exceção, executivos não titubearam em dizer que a crise foi um período importante para o desenvolvimento de novas estratégias de produtos e que não faltaram investimentos. Mas não colocaram na ponta do lápis quantos postos foram fechados durante a crise.

Doce cana
E se há cinco anos a bola da vez eram os caminhões para aplicação em mineração e máquinas atualizadas para o padrão de emissões Euro 5, hoje a menina dos olhos dos fabricantes de caminhões é o setor sucroalcooleiro. Tanto que praticamente todos os fabricantes apresentaram versões destinadas a esse tipo de operação.
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Outra vertente da feira foram as soluções em automação, que prometem aumentar a segurança das operações de carregamento e transporte das cargas.
A Volvo apresentou o VM Autonomous, primeiro caminhão com sistema autônomo desenvolvido na América Latina. O modelo conta com um sistema que auxilia o motorista durante a transferência da cana da colheitadeira para o compartimento de carga, sem danificar os brotos no solo.
Segundo a marca, a cada colheita pelo menos 10 toneladas são perdidas com a rolagem sobre jovens plantas. Ele é dotado de sensores capazes de mapear o terreno e acompanhar a máquina sem invadir a área de plantio.
Já a holandesa DAF também aposta as fichas na extração da cana e na indústria de celulose com os modelos CF85 e XF85, na ordem. De acordo com a empresa, os veículos foram desenvolvidos pelo time local e receberam melhorias para conseguir trafegar em terrenos acidentados, sem pavimento e com muita poeira e capacidade de carga de até 75 toneladas.
A MAN, braço do Grupo VW que cuida das marcas MAN e Volkswagen Caminhões, trouxe o protótipo Tractor 33.440 Off-Road, que faz parte do desenvolvimento de uma unidade que também será destinada à indústria da cana e madeireira.
Leves e elétricos
Voltada para o transporte urbano de pequenas cargas, a Volks resolveu investir no segmento de caminhões leves que é dominado por modelos como Kia Bongo, Hyundai HR e Iveco Daily, com a linha Delivery Express. Os caminhõezinhos chegam em seis versões com PBT de 3,5 a 13 toneladas, sendo que a menor versão pode ser conduzida por motoristas com habilitação do tipo B.
No entanto, o destaque ficou por conta do e-Delivery, versão 100% elétrica para uso urbano. Está ainda em fase de desenvolvimento. A Volks garante que as baterias do veículo permitem autonomia de até 200 quilômetros e recarga parcial em até 15 minutos. O tempo normal de recarga é de três horas e meia. No período de testes, uma frota será disponibilizada para a cervejaria Ambev fazer entregas na cidade de São Paulo.
Mercedes-Benz e Iveco também apresentaram novas versões dos modelos Sprinter e Daily, com destaque para as versões chassi com PBT de até 3,5 toneladas que não exigem do motorista CNH de categoria C ou superior.

Tempo real
Outra tendência que tem ganhado força no setor de transporte são os módulos de monitoramento do caminhão. Ford, Mercedes-Benz e Scania apresentaram soluções que permitem acompanhar em tempo real o funcionamento do caminhão, conferir desgaste de componentes, calcular peso da carga, dentre outras funções que visam antever possíveis defeitos e reduzir o tempo do caminhão parado na oficina.