João Pereira Coutinho analisa, em sua coluna semanal na Folha,
as esfarrapadas desculpas apresentadas pelo produtor norte-americano
Harvey Weinstein, acusado de assédio e estupro por várias beldades de
Hollywood. Ah, sim, Weinstein é "progressista" convicto e doador do
Partido Democrata dos Clinton e Obama:
É um conselho
elementar: os indivíduos valem pelos seus atos, não pelas suas palavras.
Qualquer um é capaz de uma retórica competente. E seria possível
escolher dois ou três discursos políticos de grandes criminosos da
história –discursos sobre a liberdade, a igualdade, a fraternidade– sem
revelar o essencial sobre as suas condutas miseráveis.
Mas os atos, sobretudo quando praticados anonimamente, são a verdadeira revelação de caráter.
Um caso exemplar é o de Harvey Weinstein.
Cheguei a Nova York alguns dias atrás. Pensava eu que as notícias
seriam Donald Trump de manhã à noite. Erro. Trump desapareceu dos
radares e a mídia só fala de Weinstein.
Apresentações: Harvey
Weinstein é um dos mais conhecidos e reconhecidos produtores de cinema
atuais. Sem falar do resto: democrata "convicto" e um ilustre apoiante e
doador do Partido Democrata.
Problema: Weinstein
terá cometido uma série de assédios sexuais contra atrizes e outro
pessoal que trabalhava para a sua produtora – a poderosa Miramax. Angelina Jolie ou Mira Sorvino estão na longa lista das alegadas vítimas.
Sabemos que Weinstein celebrou 8 acordos extrajudiciais para esconder
os crimes. Há também acusações de violação – três, para sermos exatos.
E a "The New Yorker",
dois dias atrás, liberou uma gravação onde Weinstein mostra os seus
dotes "predatórios" com uma modelo italiana.
Perante isso, que fez
o nosso Harvey? Escreveu uma carta para o "The New York Times", jornal
que iniciou as denúncias, e que deveria ser estudada como uma obra-prima
da hipocrisia progressista.
Para começar, Harvey
Weinstein afirma que lamenta os seus comportamentos; mas atira com as
culpas para a contra-cultura das décadas de 1960 e 1970, onde se formou e
deformou. Os assédios, no fundo, não foram dele; foram dos "hippies"
que lhe ensinaram o mantra "faça amor, não guerra", mesmo que esse amor
envolva uma certa dose de ameaças e brutalidades.
Mas o momento
esplendoroso da carta acontece quando o produtor promete, perante as
massas "liberais", que reforçará o seu combate à National Rifle
Association – e que doará 5 milhões de dólares para apoiar mulheres
diretoras.
O "The Wall Street
Journal", em editorial, resumiu com propriedade o raciocínio que existe
na cabeça de Weinstein: "Se eu relembrar ao ilustre público que apoio as
causas certas, serei perdoado pelos meus pecadilhos. Donald Trump não
tem salvação quando agarra as mulheres pela genitália; mas eu,
combatendo a cultura das armas e batalhando pela igualdade dos sexos,
terei a absolvição dos otários."
Infelizmente para
Weinstein, os otários não parecem disponíveis para semelhante bondade.
Mesmo os otários – como Matt Damon, por exemplo – acusados de terem
protegido o produtor no passado. Como? Pressionando jornalistas para não
publicarem as denúncias.
Confesso: não sei se
as acusações são verdadeiras ou falsas. E, aqui entre nós, não tenho uma
curiosidade mórbida pelo assunto. Deixemos para a justiça o que é da
justiça.
Mas também confesso que existe alguma ironia quando vemos um moralista devorado em público pela fúria de outros moralistas.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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