MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 14 de outubro de 2017

Os indivíduos valem pelos seus atos, não pelas suas palavras.


João Pereira Coutinho analisa, em sua coluna semanal na Folha, as esfarrapadas desculpas apresentadas pelo produtor norte-americano Harvey Weinstein, acusado de assédio e estupro por várias beldades de Hollywood. Ah, sim, Weinstein é "progressista" convicto e doador do Partido Democrata dos Clinton e Obama:


É um conselho elementar: os indivíduos valem pelos seus atos, não pelas suas palavras. Qualquer um é capaz de uma retórica competente. E seria possível escolher dois ou três discursos políticos de grandes criminosos da história –discursos sobre a liberdade, a igualdade, a fraternidade– sem revelar o essencial sobre as suas condutas miseráveis.

Mas os atos, sobretudo quando praticados anonimamente, são a verdadeira revelação de caráter.

Um caso exemplar é o de Harvey Weinstein. Cheguei a Nova York alguns dias atrás. Pensava eu que as notícias seriam Donald Trump de manhã à noite. Erro. Trump desapareceu dos radares e a mídia só fala de Weinstein.

Apresentações: Harvey Weinstein é um dos mais conhecidos e reconhecidos produtores de cinema atuais. Sem falar do resto: democrata "convicto" e um ilustre apoiante e doador do Partido Democrata.

Problema: Weinstein terá cometido uma série de assédios sexuais contra atrizes e outro pessoal que trabalhava para a sua produtora – a poderosa Miramax. Angelina Jolie ou Mira Sorvino estão na longa lista das alegadas vítimas. Sabemos que Weinstein celebrou 8 acordos extrajudiciais para esconder os crimes. Há também acusações de violação – três, para sermos exatos.

E a "The New Yorker", dois dias atrás, liberou uma gravação onde Weinstein mostra os seus dotes "predatórios" com uma modelo italiana.

Perante isso, que fez o nosso Harvey? Escreveu uma carta para o "The New York Times", jornal que iniciou as denúncias, e que deveria ser estudada como uma obra-prima da hipocrisia progressista.

Para começar, Harvey Weinstein afirma que lamenta os seus comportamentos; mas atira com as culpas para a contra-cultura das décadas de 1960 e 1970, onde se formou e deformou. Os assédios, no fundo, não foram dele; foram dos "hippies" que lhe ensinaram o mantra "faça amor, não guerra", mesmo que esse amor envolva uma certa dose de ameaças e brutalidades.

Mas o momento esplendoroso da carta acontece quando o produtor promete, perante as massas "liberais", que reforçará o seu combate à National Rifle Association – e que doará 5 milhões de dólares para apoiar mulheres diretoras.

O "The Wall Street Journal", em editorial, resumiu com propriedade o raciocínio que existe na cabeça de Weinstein: "Se eu relembrar ao ilustre público que apoio as causas certas, serei perdoado pelos meus pecadilhos. Donald Trump não tem salvação quando agarra as mulheres pela genitália; mas eu, combatendo a cultura das armas e batalhando pela igualdade dos sexos, terei a absolvição dos otários."

Infelizmente para Weinstein, os otários não parecem disponíveis para semelhante bondade. Mesmo os otários – como Matt Damon, por exemplo – acusados de terem protegido o produtor no passado. Como? Pressionando jornalistas para não publicarem as denúncias.

Confesso: não sei se as acusações são verdadeiras ou falsas. E, aqui entre nós, não tenho uma curiosidade mórbida pelo assunto. Deixemos para a justiça o que é da justiça.

Mas também confesso que existe alguma ironia quando vemos um moralista devorado em público pela fúria de outros moralistas.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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