Como a
estupidez ideológica não tem fim, sobrou preconceito politicamente
correto também para a matemática, que privilegiaria os estudantes com
base na etnia. Ideologia, de fato, emburrece:
Tradicionalmente
considerada uma disciplina objetiva, a matemática ensinada nas escolas
não debate questões sociais e culturais comuns a disciplinas como
sociologia, história e filosofia. Mas deveria? Para alguns acadêmicos, a
resposta é sim.
Nos
últimos anos, tem ganhado força uma corrente segundo a qual a matemática
tradicional privilegia os estudantes com base na etnia.
“Em
muitos níveis, a matemática opera como a branquitude. Quem é creditado
por fazer e desenvolver a matemática e quem é visto como parte da
comunidade matemática é visto geralmente como branco”, escreveu Rochelle
Gutiérrez em seu livro “Building Support for Scholarly Practices in
Mathematics Methods” (“Construindo suportes para práticas acadêmicas em
métodos de matemática”, em tradução livre), de acordo com o site CampusReform.
Segundo
ela, a ênfase em conhecimentos produzidos por pensadores europeus, como o
teorema de Pitágoras (um grego), ou o número pi, popularizado pelo
matemático suíço Leonhard Euler, reforçam a ideia de que as bases da
matemática como ciência foram lançadas na Europa. E com essa abordagem,
indivíduos de grupos minoritários são afastados da matemática. “Se uma
pessoa não é vista como pertencente à matemática, sempre haverá um senso
de inferioridade que emergirá”, argumenta Gutiérrez.
Representatividade
Essa ideia foi defendida em uma nota oficial conjunta
de duas organizações que tem se dedicado a combater o“eurocentrismo” da
matemática: a TODOS: Mathematics for All e o National Council of
Supervisors of Mathematics (NCSM). No documento, as organizações apontam
que “líderes e professores de matemática devem reconhecer que o atual
sistema educacional de matemática é injusto e baseado em um legado de
discriminação institucional com base em raça, etnia, classe e gênero”.
Um estudo realizado pelo matemático Trevor Thayne Warburton
defende que a noção de que a matemática como conhecimento abstrato, ou
uma ciência pura, também é uma abordagem branca. Segundo ele, isso
ocorre porque o ensino delimita os conhecimentos matemáticos de acordo
com noções europeias, sobretudo da Grécia Antiga, do que seria o
pensamento matemático.
Para
Warburton, essa noção está enraizada na educação e define os modelos e
metodologias de ensino de matemática. “Esses discursos dominantes
definem os relacionamentos que são estabelecidos com os alunos, o
conhecimento do que significa ser um bom professor de matemática e o que
é reconhecido como matemática escolar”, diz.
De
acordo com a análise de Trevor, essa concepção deve ser desafiada na
formação dos professores de matemática, devem desafiar a noção da
matemática pura.
“Esses
discursos podem ser desafiados ao tratar sobre a separação entre
matemática pura e aplicada, a separação da matemática em vários ramos e
falta de reconhecimento de concepções alternativas do que é matemática e
o que significa fazer matemática”, sugere.
Brasil
No
Brasil, uma iniciativa nesse sentido é a inclusão de disciplinas de
etno-afromatemática no curso de licenciatura em Matemática da
Universidade Federal do ABC (UFABC). O objetivo é incluir no currículo de formação de professores o estudo de contribuições africanas e afrodescendentes
à matemática contra uma “supervalorização do pensamento de matriz
europeia em detrimento da produção intelectual de origem africana”.
Uma
justificativa para esse tipo de mudança é a ideia de que o ensino de
matemática está ligado a uma doutrinação. “A matemática é
tradicionalmente ensinada de uma maneira que os alunos são expostos a um
ensino por si só já doutrinário”, explica Adonai Schlup Sant'Anna,
professor do Departamento de Matemática da Universidade Federal do
Paraná (UFPR).
Do mesmo modo, análise realizada por Brian Katz,
professor de matemática na Augustana College, e publicada pela American
Mathematical Society aponta que a matemática é política e que a
determinação dos conteúdos e conhecimentos trabalhados no ensino da
disciplina são uma escolha guiada por essa orientação política.
“A
matemática é política porque é aprendida por pessoas. A escola é uma
instituição cultural que busca recriar uma cultura”, explica Katz.
“Dentro das nossas salas de aula, como algumas vozes, ideias e questões
se tornam centrais enquanto outras são desconsideradas?”
Divergência
Para
Guilherme Rodrigues especialista em Matemática e professor dos cursos de
Engenharia da Universidade Positivo (UP), a escolha dos conteúdos
ensinados em matemática está mais relacionada às necessidades do
mercado. “Vivemos em uma sociedade que trabalha no âmbito do mercado, e
há exigências externas. Claro que há também exigências sociais. Essas
duas correntes têm que conversar. O que vemos hoje é uma histeria dos
dois lados”, diz.
Segundo
ele, determinadas abordagens e métodos de ensino podem ser considerados
elitistas porque desconsideram as dificuldades específicas de certas
camadas da sociedade, mas esse elitismo não teria base racial.
“Considero que o elitismo é a pior de todas as expressões e o racismo
também é. Mas vejo que o elitismo nos cerca. Ele não agride só um grupo
especifico, ele agride a sociedade como um todo.” (Gazeta do Povo).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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