Longe da insegurança das ruas, as fintechs, popularmente chamadas de bancos virtuais, cresceram 400% em pouco mais de três anos. Em 2015, o país contava apenas com 120 delas. Hoje, são 480. De 10% a 15% foram criadas em Minas Gerais. E ganharam o Brasil, segundo dados da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs).
É um crescimento expressivo, contrariando o movimento de recessão da economia. Para se ter ideia, neste ano entraram em operação nada menos que 160 fintechs.
Os bancos virtuais viram nas reclamações dos clientes das agências físicas das instituições financeiras de grande porte o filão para ganharem mercado. Com pouca burocracia (não existem agências físicas e toda movimentação é feita pela internet) e taxas atrativas, fisgam cada vez mais clientes.
Entre os maiores incentivos das fintechs estão a isenção da taxa de anuidade do cartão de crédito e a facilidade de acesso às informações e transações, que podem ser feitas à palma da mão, com celulares, tablets e outros dispositivos móveis.
Além disso, conforme Rodrigo Soeiro, presidente da ABFintechs, o custo final para o cliente é um chamariz.
“A nossa proposta consiste basicamente na oferta de produtos financeiros de maneira simplificada, boa parte, via dispositivos móveis ou web. Com isso, a oferta de produtos se torna mais acessível, mais barata do que o mercado convencional”, explica. Usuários alertam, no entanto, que algumas poucas tarifas podem ficar mais caras que as praticadas pelos bancos, como aquelas cobradas em operações internacionais.
Investimentos
A aceitação do mercado foi tamanha que as três maiores fintechs brasileiras, listadas no ano passado pela CB Insights, uma das principais consultorias americanas para tecnologia, conseguiram aportes milionários de investidores.
A Nubank, que atua como operadora de cartões de créditos e banco digital, arrecadou na última rodada dela de captação, em março, cerca de R$494 milhões. A empresa conta atualmente com mais de 3 milhões de clientes no país.
Já a Creditas, que trabalha com empréstimos bancários, angariou em torno de R$165 milhões em investimentos, liberados por um fundo sueco, em outubro do ano passado.
O GuiaBolso, que também tem o enfoque voltado para os empréstimos, levantou em outubro cerca de R$125 milhões em recursos vindos do mesmo grupo que investiu na Creditas.
Com projetos ambiciosos de expansão, a empresa conta, só em Minas Gerais, com 23.282 clientes. No Brasil, o número ultrapassa os 4 milhões.

Regulamentação
Apesar do crescimento das fintechs no país, ainda não existem regras claras que definam a atuação dessas empresas, o que representa uma desvantagem.
Entretanto, esse processo de regularização está em andamento pelo Banco Central (BC), a partir de uma consulta pública, que foi encerrada em novembro do ano passado.
No texto proposto pelo BC, essas empresas poderão fornecer um conjunto limitado de serviços, que inclui a análise de crédito e a agência de seguros, ambas relacionadas a operações de crédito. As instituições estarão sujeitas a um processo simplificado de autorização, bem como a cumprir uma regulamentação proporcional, de acordo com o tamanho e perfil de risco.

Por meio de nota, o BC afirmou que busca estimular o processo de inovação, bem como a possibilidade da entrada de novos participantes no Sistema Financeiro Nacional.

Concorrência
Também em nota, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) disse que espera que essas regras sejam capazes de garantir condições equivalentes de atuação para os agentes do mercado e facilitem a absorção de novas tecnologias e processos pelas instituições financeiras já existentes, sem tolher a contribuição das empresas inovadoras mais recentes para o bom funcionamento do sistema.

Usuário do serviço relata rapidez ao resolver problema
Além de oferecer isenção de taxas de anuidade e manutenção, as fintechs também apostam em outros diferencias para atrair o consumidor, como o relacionamento com o usuário.
Cliente da Nubank há um ano e meio, o analista de Tecnologia da Informação Rodrigo Tavares relata uma experiência em que sentiu, segundo ele, a diferença da fintech para outros bancos convencionais.
“Uma vez, recebi a notificação de uma compra no exterior de valor muito alto, que eu não reconhecia. Prontamente acionei o chat da empresa, e, em questão de minutos, a compra havia sido cancelada, meu cartão bloqueado e o novo já estava sendo reemitido, sem qualquer stress ou burocracia. Nos outros bancos, não seria assim”, afirma.
Além da segurança nas transações, Tavares cita a celeridade nas consultas e transações como outros atrativos desse tipo de serviço.
“O que me atraiu foi a possibilidade de não ter que pagar a taxa, e o modo de controle das minhas finanças, em que posso fazer tudo pelo celular, inclusive cancelar o cartão”.
Riscos 
A possibilidade de contrair empréstimo a taxas mais baixas do que as encontradas no mercado pode ser uma armadilha ao consumidor, explica o professor e coordenador do curso de administração do Ibmec, Eduardo Coutinho.
“O risco passa pela queda na taxa de juros. Quando o custo é menor, o consumidor se sente mais à vontade para fazer os empréstimos, o que pode gerar um aumento na inadimplência”. Se a inadimplência estiver elevada, o risco pode recair sobre o cliente, já que as regras para a atuação ainda não são claras.
Para Coutinho, o crescimento das fintechs se dá pelo mesmo motivo pelo qual os bancos tradicionais expandiram, com apenas uma diferença.
“As fintechs ganham dinheiro como todas as outras instituições financeiras, em que há o encontro de quem tem o recurso sobrando (instituição) com as pessoas que não têm o recurso no momento, mas querem antecipar esse consumo. Daí surgem os empréstimos e juros. A diferença é que o investimento das fintechs é menor, mais em tecnologia, não em estrutura física como os bancos”.