MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 21 de abril de 2018

Ansiedade e cobrança podem causar enxaqueca em jovens e crianças

Postado em 20/04/2018 5:59 DIGA BAHIA
Um estudo realizado pela WGSN, uma multinacional líder em pesquisa de tendências, analisou quais são os principais gatilhos para a dor de cabeça e para as crises de enxaqueca na vida moderna.
O resultado mostra que a ansiedade e o esgotamento cerebral estão no topo da lista, seguidos de autoexigência, barulho e o que os pesquisadores chamaram de dor da pós-verdade, essa preocupação constante em avaliar os conteúdos, lidar com as fake news e com a necessidade de selecionar opiniões e sentimentos.
Isso pode até parecer lógico para uma pessoa adulta que precisa trabalhar, cuidar da família, educar os filhos e pagar as contas. A surpresa é que esses gatilhos também causam dor de cabeça em crianças e adolescentes.
A psicóloga Juliane Mercante, do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que esses problemas da “vida adulta” acabam sendo transferidos para crianças e adolescentes à medida que eles também precisam lidar com a cobrança, muitas vezes, exagerada dos pais, dos amigos e da escola.
“As crianças e adolescentes também sofrem esta pressão de horários e excesso de atividades, às vezes dormindo pouco, porque as aulas começam muito cedo. Algumas se sentem muito sobrecarregadas com muitas lições e provas, sem falar na época de vestibular. A pressão para acertar na escolha da carreira de ‘sucesso’”, explica a psicóloga.
A neurologista Célia Roesler, coordenadora do Departamento Científico de Cefaleia da Academia Brasileira de Neurologia, concorda. Ela compara as crianças a “miniexecutivos” que vivem com a agenda lotada: além da escola, tem curso de língua estrangeira, atividade física, aulas de reforço e uma série de tarefas a cumprir, o que acaba gerando o esgotamento cerebral e a ansiedade. “Cadê aquela infância da criança jogando bola na rua? Hoje a criança ou está no computador, ou está fazendo estas coisas”, questiona a médica.
Essa ansiedade gerada pelo excesso de cobrança e compromissos causa efeitos físicos como a liberação da adrenalina e o aumento do cortisol – o hormônio do estresse que, quando em excesso, além da dor de cabeça, pode levar à hipertensão ou problema cardíaco.
Dor de cabeça a partir dos 5 anos
O neurologista Daniel Ciampi, do Hospital Sírio-Libanês, explica que as crises de enxaqueca em crianças podem começar por volta dos 5 anos e dificilmente são diagnosticadas. “A crises de enxaqueca em crianças são facilmente confundidas com sinusite”.
Mas como saber quando uma criança que, muitas vezes, não consegue expressar o que sente, está passando por uma crise de dor de cabeça?
O pediatra do Hospital Albert Einstein, Eduardo Troster, explica que os pais devem prestar atenção no comportamento da criança. “Quando uma criança chora, os pais sabem que é fome, ou é sono, eles conhecem o filho. Mas, quando o choro é inexplicável, quando a criança fica irritada e nada acalma, nada faz passar, a principal hipótese é que ela tenha uma dor”, destaca.
Para definir que dor é essa é preciso, em primeiro lugar, analisar o histórico familiar. “Quando a mãe ou a avó têm histórico de enxaqueca, de dor intracraniana, latejante, com náusea ou fotofobia, é indicado fazer um teste terapêutico na criança para ver se ela sofre com o mesmo problema”, explica Troster.
Mas o médico faz um alerta: os pais precisam ter calma e evitar o exagero. “Muitas vezes a criança começa a ter dor e os pais já temem que seja um tumor, algo mais greve e pedem uma ressonância. É preciso fazer uso destes exames com cautela. Uma tomografia, por exemplo, tem radiação, que a longo prazo pode causar câncer. No caso das crianças, tem que dar anestesia para ela ficar quieta, tudo isso pode ser perigoso”, destaca o pediatra.
Antes de partir para estes exames é preciso esgotar as possibilidades. Às vezes, uma crise de dor de cabeça pode ser causada por uma dificuldade de enxergar, por exemplo. Então é preciso fazer um exame oftalmológico.
“Também é importante avaliar o momento familiar. Se os pais estão se separando, se a família enfrenta um problema, se a criança trocou de escola, se está sofrendo bullying, tudo isso pode gerar uma angústia e, como consequência, uma dor de cabeça”, conclui Troster.
Mudanças hormonais causam dor de cabeça
Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto avaliou 415 jovens da rede estadual de ensino com média de 15 anos. Do total, 72,8% enfrentam crises de dor de cabeça. O índice é maior entre as meninas, os alunos que usam aparelho ortodôntico e os que consomem bebidas alcóolicas.
No caso das meninas, 79% afirmaram que costumam ter dor de cabeça, índice bem superior ao dos meninos, 62,5%. O responsável pelo estudo, o médico Luiz Eduardo Vieira Grassi, explica que esta prevalência começa a parecer depois dos 7 anos.
“Descrições na literatura apontam que a relação de prevalência entre meninas e meninos até os 7 anos é menor que 1 e passa para 1 entre os 7 e 11 anos e para 2,3 depois da puberdade. Isso se deve à influência hormonal. Os jovens participantes da minha pesquisa estavam nesse período de mudanças hormonais”, explica.
No caso das meninas, o início da puberdade é marcado por uma série de mudanças no corpo. É também nessa fase, entre 10 e 14 anos, que acontece a primeira menstruação, o que pode desencadear crises de enxaqueca.
“Existe uma relação entre o aumento de estrogênio, um hormônio feminino produzido pelos ovários e liberado no início do ciclo menstrual, e uma maior propensão à crise de enxaqueca”, destaca o neurologista Daniel Ciampi.
O médico também explica que, normalmente, nestes casos, existe uma pré-disposição familiar às crises durante o período menstrual.
Diagnóstico e tratamento
Quando a dor de cabeça é frequente, o mais importante é procurar um neurologista, de preferência, especialista em cefaleia.
Os pais devem prestar atenção nos hábitos dos filhos e no que pode estar causando as crises de dor de cabeça. A psicóloga Juliane Mercante dá as dicas. “Observar se as crises estão relacionadas a períodos de estresse, provas, privação de sono, questões de dificuldades de relacionamento familiar ou mudanças significativas, como a de escola, por exemplo, quando mudam as exigências, as responsabilidades e até o número de professores”.
A pouca ingestão de água e alimentação, o jejum prolongado, também podem ser gatilhos para as crises.
A melhor forma de tratamento deve ser definida pelo médico, mas, durante as crises, é importante que a criança tenha “um momento de calma e relaxamento”, segundo a psicóloga.
R7

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