Artigo de Mary Zaidan, via Blog do Noblat:
Instituições em
frangalhos – e não adianta achar que garante o contrário o fato de elas
estarem funcionando como se normalidade existisse -, economia ainda
engasgada e atividade política em descrédito absoluto. Saídas para esse
tripé agonizante deveriam concentrar o debate nacional, quanto mais a
cinco meses das eleições. Mas estão longe de frequentá-lo.
As urnas estão na cabeça dos políticos e analistas, mas são quase inexistentes no calendário de quem mais importa: o eleitor.
Na última pesquisa
Datafolha, ainda que os dados da apuração estimulada revelem
preferências por A ou B, a coleta espontânea aponta que 46% não têm
candidatos à Presidência da República e outros 21% preferem deixar em
branco ou anular seus votos. Cabe lembrar que desde o advento da urna
eletrônica o voto é espontâneo. O eleitor tem de saber o número do
escolhido, digitá-lo e confirmar a opção.
A esse eleitor ainda
desconectado com o pleito de outubro são oferecidos nomes em vez de
ideias. Alguns revestidos de simbologia como a novidade Joaquim Barbosa,
recém filiado ao PSB. Em um movimento inverso ao que deveria ser,
trata-se de um nome e tanto, com enorme apelo, mas sabe-se lá atrás de
que ideário.
O homem da capa
preta, combatente implacável contra a corrupção. Ainda que em contexto
completamente diferente, faz lembrar o “caçador de marajás” de Fernando
Collor de Mello, eleito em 1989 e deposto em 1992. Com outra roupagem,
Collor pretende voltar à disputa, ainda que nem ele próprio saiba o
porquê.
Têm-se hoje mais de duas dezenas de pré-candidatos. Muita gente para pouquíssimo conteúdo.
Apontada como uma das
herdeiras dos votos de Lula, preso em Curitiba e inelegível pela Lei da
Ficha Limpa, Marina Silva (Rede) desaparece sempre que o circo pega
fogo e emerge nos períodos eleitorais. Mesmo em anos em que o incêndio
nacional não cede. O outro, Ciro Gomes (PDT), de espírito inflamado, tem
pouco mais a oferecer além de sua língua ferina.
Bolsonaro, que lidera
as pesquisas estimuladas sem Lula, é uma versão atualizada do “prendo e
arrebento”, e só. O que ele pretende fazer até mesmo na área de
segurança, em que se diz expert, ninguém sabe.
Em dificuldades em
São Paulo, estado que governou por 12 anos, agravadas com as acusações
contra Aécio Neves, e agora com seu próprio nome arrolado em
investigações, o tucano Geraldo Alckmin também ainda não conseguiu
mostrar a que veio.
Nada disso ocorre por
acaso. Há tempos a política deixou de ser palco de discussões sobre os
rumos do país para se ocupar com a defesa de quem a estraçalhou.
Considera-se normal
um Congresso que não legisla e uma Justiça que o faça. Uma Câmara que
permite que um deputado preso, João Rodrigues (PSD-SC), integre a
comissão que analisa o novo Código Penal. Que a Suprema Corte autorize
um senador cassado, Demóstenes Torres, a disputar a eleição. Que um
ex-presidente, Lula, faça comício com mandado de prisão já expedido
contra ele.
Somos resultado dos monstros que criamos – com ou sem capas. E só temos as urnas como arma.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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